Minha História
Nunca foi sorte, sempre foi uma jornada de muita dedicação.
Então senta que lá vem história…
Eu venho de uma família que me deu uma base muito boa para poder abrir minhas asas e voar. Sempre recebi um apoio maravilhoso dos meus pais, aquele tipo de pais corujas mesmo, sabe? Desde quando éramos bem pequenos, eu e meu irmão gêmeo, estávamos praticando algum esporte. Meu pai foi atleta de luta e é profissional de educação física, meu tio é um grande representante do Karatê até os dias de hoje, e a paixão pelo esporte foi passado de geração pra geração. Já a minha mãe uma super pedagoga, que sempre nos ensinou a ver o lado bom da vida com muito otimismo e positividade. Começamos pela natação, minha mãe achava importante sabermos nadar para qualquer imprevisto futuro nas nossas vidas. Logo depois veio a pintura e o teatro, aos 5 anos. Eu amava pintar, lembro que eram as manhãs mais divertidas e criativas que eu tinha. Já no teatro, essa foi a minha grande paixão por quase 8 anos. Ali que eu conheci os palcos, o que era estar em contato com a plateia, aquela energia e frio na barriga de estar na coxia esperando o espetáculo começar.
Logo em seguida, aos 7 anos, veio a dança. Foi esperando meu irmão no futebol que eu conheci a aula de jazz com a professora Jessica. Eram aulas extra curriculares na escola regular mesmo, mas ali nascia uma nova paixão: a dança. No ano seguinte conheci o ballet clássico e obviamente que comecei a fazer os dois. Com o passar dos anos veio também o sapateado e dança contemporânea, eu gostava cada vez mais do que eu estava fazendo e os professores começaram a dizer para os meus pais que eles deveriam apostar em mim e me levar para uma academia profissionalizante. Foi aí que aos 9 anos entrei na minha primeira escola profissionalizante de dança. Foi ali também que as competições e festivais começaram e as responsabilidades também. Mudei de escola algumas vezes. Aos 13 anos, comecei a fazer aulas com a Marina Ricci e o Vinicius Anselmo. Tive por uns 4 anos um super direcionamento deles, participei de festivais internacionais como o Tanzolimp em Berlim e o YAGP em Nova Iorque, além do Summer do Miami City Ballet em Miami. Aos 14 para 15 anos veio a dúvida mais clássica de todas: “devo seguir com a dança para se tornar a minha profissão ou faço faculdade de outra coisa?” Eu estava prestes a começar o ensino médio na escola.
Foi aí que eu tive a oportunidade de participar pela segunda vez do Festival de Dança de Joinville, o maior do Brasil. Lá eu tive a possibilidade de me inscrever para a audição da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e é claro que eu fui fazer. Para a minha surpresa e para dar aquele empurrãozinho e decidir seguir com a carreira na dança, da turma do ano de 98 fazendo a audição, eu fui a única selecionada até o final. Ali estava a resposta que eu tanto buscava. Acham que a surpresa parou por ai? Não mesmo, lembro de eu e minha mãe voltando de ônibus para São Paulo com uma decisão ainda maior: mudar em 10 dias para Joinville ou ficar em SP e partir para outro caminho? Eu sabia que com apenas 15 anos eu estaria tomando uma decisão muito importante para a minha vida na dança.Nessa altura, a dança já era parte da minha vida e não tive mais o que pensar, mudamos em 10 dias para Joinville. Meus pais estiveram durante esses quase 4 anos de Bolshoi, sempre comigo presentes, o que foi muito importante pra mim e o qual eu sou muito grata. Foram anos maravilhosos, de muitas experiências e incontáveis aprendizados. Tínhamos uma grade muito completa mesmo. Dali eu tinha cada vez mais certeza do que eu queria para a minha vida: me tornar bailarina profissional.
Só que eu queria muito juntar esse meu sonho com outro sonho de infância: morar fora do país. Desde o primeiro dia de Bolshoi escutei a coordenadora dizendo que eu deveria me preocupar e me preparar para as audições, se quisesse fazer carreira fora do país. Foi então que eu comecei nos estudos de como eu iria me “preparar e me planejar pra isso”. Levei um tempo para entender como o mundo das audições e uma carreira profissional funcionam, lembro que eu literalmente entrevistei várias pessoas que me ajudaram a entender melhor esse “novo mundo” que eu queria tocar.
Quando eu estava na sétima série comecei de fato a colocar todos esses ensinamentos em prática, montar o meu material de dança e enviar para as audições. Minha primeira audição aconteceu nesse mesmo ano na Espanha. Cheguei até mesmo a participar no ano seguinte, do Seminário de dança de Brasília, onde fui agraciada com uma vivência na Escola Estatal de Berlim e uma bolsa de estudos no European Dance Center em Paris. Foi então que eu percebi o quanto um bom planejamento estratégico faria toda a diferença dali pra frente para eu alcançar a minha carreira profissional e os meus objetivos.
No oitavo ano, eu fiz estágio com as turmas iniciantes da Escola do Teatro Bolshoi, onde tive a oportunidade de estar ali bem de pertinho aprendendo desde os primeiros passos de quem se inicia na dança, através da metodologia do Vaganova com professores russos. Além disso, tive a oportunidade fantástica de trabalhar e ser lapidada também por Galina Kravchenko, um marco para a dança russa. Durante essa minha trajetória no Bolshoi tive pessoas/profissionais que me marcaram e continuam me marcando, como a prof Larissa, o prof e paizão Guto, o prof Maikon, o prof Dmitri e Denis. Vou lembrar deles sempre com muito carinho mesmo.
Nesse ano de formatura eu me realizei em vários sentidos como bailarina, me sentia pronta para o mercado da dança, porque senti que me preparei bem para isso. O dia da nossa formatura foi algo que me marcou eternamente. Finalmente, depois de 8 anos ou até mais, eu estaria formada em dança clássica e contemporânea. Aos 18 anos eu já me preparava para embarcar para 2 intensos meses de audições da Europa, depois de ter analisado muito bem o que eu queria para a minha dança como profissão.Só que a oportunidade de ser contratada pela Cia Jovem do Bolshoi veio inesperadamente. Claro que eu aceitei, mas mesmo assim o diretor Pavel me permitiu que eu fosse para as audições, ele sabia o quanto seria importante pra mim.
Foram 2 meses intensos, muitas histórias, experiências impagáveis… Foram 3 países no roteiro: Alemanha, Áustria e França. Eu voltava pro Brasil para trabalhar com a Cia jovem e esperava algumas respostas. Voltei para o Brasil e trabalhei alguns meses na Cia Jovem do Bolshoi Brasil, mas mal eu sabia que eu teria o convite da diretora do Thüringer Staatsballett na Alemanha tão rápido, para fazer parte da Cia Jovem deles. Eu tinha conseguido o meu objetivo: dançar profissionalmente morando fora do país, em um dos países que estava nos meus planos. Eu não acreditava, mas muitos também não, porque o que merece ser contado aqui também, é que sempre foi muito trabalho e dedicação da minha parte, muito mesmo. Mas muitas pessoas duvidaram que eu conseguiria…
Meses depois eu estava começando a minha carreira recém iniciada no Brasil, só que agora fora do país, além de ter saído em uma reportagem para a Revista Forbes under 30 do Brasil contando sobre a minha trajetória na dança de sucesso. Eu não podia imaginar tudo que estava acontecendo, tudo que estava por vir e o capítulo incrível que eu iria escrever na minha história. Nesse tempo, fui promovida para a Cia principal depois de 1 ano, tivemos oportunidades incríveis como ir em turnê para China e França, coreógrafos renomados para remontagem com a Cia, participei de musicais, fui jovem coreógrafa tendo minha coreografia presente na performance e gala oficial do Teatro. A verdade é que a minha história só estava começando…
Nesse meio tempo revivi outras paixões passadas: comunicação e escrita. Comecei a faculdade de Marketing, iniciei meus trabalhos com cursos e consultoria online voltadas para a dança como profissão para ajudar outros bailarinos e futuros profissionais da dança, comecei a empreender no digital o que era outro sonho de criança: ter o meu próprio negócio. E finalmente a última notícia desta história toda até o dia que eu escrevo esse texto é: sou a nova redatora da revista Dance for You Magazine na Alemanha para a nova coluna sobre Dança “Dancer’s Corner.”
Se eu estou feliz e realizada até aqui ? Demais, mas como disse, é só o começo…Só nem sempre foi fácil. Já pensei em desistir várias vezes, tiveram muitos obstáculos no caminho, várias pessoas duvidando do meu potencial… Mas o mais importante: eu não desisti de mim.